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Mudanças na legislação representam novo marco
Fonte: Jornal do Comércio
O meio contábil comemorou na segunda-feira, 22 de setembro, o Dia do Contador. A categoria vive um momento rico em termos de oportunidades e valorização profissional. "Talvez até então os motivos para comemorar não fossem tantos, mas a nova Lei das S.A., entre outras medidas, aumenta a importância do contador", ressalta o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRC-RS), Rogério Rokembach.
Os contadores ganham mais relevância junto às empresas e à sociedade. O novo marco para o segmento é a ênfase na contabilidade nos aspectos comerciais nacionais e internacionais, inclusive do ponto de vista tributário. A Lei 11.638 estendeu uma série de prerrogativas anteriormente restritas apenas às empresas de capital aberto. Ela trouxe novidades, convergindo a contabilidade tradicional brasileira para as normas internacionais.
Conforme o sócio-responsável pela PricewaterhouseCoopers na região Sul Carlos Biedermann, esse processo de convergência atingirá todos os portes de empresas. "Começa com as maiores e abrangerá a economia como um todo. As corporações precisam urgentemente estabelecer um cronograma de migração, pois as demonstrações contábeis precisarão ser apresentadas no novo modelo." Quem não adotar tais medidas, diz Biedermann, ficará fora do mundo dos negócios.
José Filomena, sócio da Bordasch, Rosito & Filomena Auditores Independentes, diz que o profissional contábil sempre foi importante. Segundo ele, a nova lei causou um certo transtorno e tumulto, deixando mais complexo o entendimento dos registros. "Ainda hoje se discutem pontos polêmicos da lei, o que torna essencial a atuação do contador."
O momento é de otimismo com o surgimento de excelentes oportunidades de trabalho. Por outro lado, o contador também enfrentará enormes desafios. Ele necessitará passar por uma reciclagem muito grande, atualizando seus conhecimentos. "Não tem como caminhar devagar, tem que correr em busca de mais conhecimento", diz Rokembach. De acordo como presidente do CRC-RS, a harmonização das normas fará com que a contabilidade seja efetivamente a linguagem universal dos negócios.
Filomena destaca outro ponto da influência da nova lei: ela requer conhecimento de idiomas e entendimento sobre os números, sua tradução e representatividade dentro do balanço, que passa a ser universal. "Existe uma série de conceitos que até então divergiam dos nossos, essa é a questão a ser estudada." É preciso conhecer como funcionam os padrões no exterior para usar no País.
Prática da governança corporativa requer estruturação
O meio empresarial brasileiro, em especial o gaúcho, passa por uma fase de mudança. A alteração diz respeito à necessidade que os administradores sentem de sair da informalidade na gestão dos negócios. Para isso, as empresas estão se estruturando e buscando boas práticas de governança corporativa, onde entram o apoio da contabilidade na tomada de decisões e o uso dos atos contábeis como estrutura básica para qualquer tipo de negociação. "A contabilidade, dessa forma, passa a ser o elemento mais empregado na gestão", diz o sócio-responsável pela PricewaterhouseCoopers na região Sul Carlos Biedermann.
"Os empresários perceberam que a informalidade, o querer fazer tudo sozinho, prejudica a perenidade das negociações. Todo patriarca e fundador está percebendo que a forma de garantir que seu negócio se estenda e gere benefícios é ter uma estrutura firme." Nesse esquema entra o contador como peça fundamental no perfil de gerenciamento das empresas, sejam elas pequenas, médias ou grandes.
Também a informatização nos processos de controle das Receitas federal, municipal e estadual torna o contador cada vez mais uma figura essencial dentro das empresas. As novas tecnologias em vigor e em fase de implementação como a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) fiscal e contábil dificultam a existência de operações informais no âmbito das empresas.
"As Receitas estão se estruturando para ter elementos de informação tão eficientes que isso torna difícil a informalidade por parte das empresas em relação aos registros contábeis", garante Biedermann. O profissional do meio passa a ser mais respeitado uma vez que tratará de informações mais corretas.
Na opinião da sócia da Trevisan Outsourcing e professora da Trevisan Escola de Negócios Geuma Campos Nascimento os fiscos e o governo federal têm contribuído para que as empresas valorizem mais o trabalho de seus contadores. O Sped contábil e fiscal, bem como a NF-e, contempla todos os dados de uma empresa, sejam eles quantitativos, qualitativos ou referentes à folha de pagamento, informações que o contador acompanha diariamente em seu trabalho. O Fisco está obrigando as corporações a ter sua contabilidade societária e tributária de forma organizada, pois será preciso enviar mais dados além dos já remetidos hoje.
Visão ampla é característica essencial
Se até alguns anos a imagem que se tinha do contador, daquele profissional envolvido em cálculos, planilhas e livros, encerrado em seu escritório era a que vinha à mente ao se pensar no profissional, hoje não são essas as característica buscadas em alguém para desempenhar as funções. O contador não pode mais se limitar à contabilidade, ele precisa ter uma visão ampla das tarefas e da situação da empresa.
"Já não existe mais o contador introvertido, que não fala com ninguém e conhece apenas um assunto. O cliente exige que ele domine vários temas, assim como a globalização", afirma o sócio da Bordasch, Rosito & Filomena Auditores Independentes José Filomena.
Outra qualidade a ser desenvolvida pelos profissionais, segundo a contadora Geuma Campos Nascimento, é a habilidade da oratória. Sem esse dom, junto com o da escrita, o contador não se fará entender pelos clientes. "A contabilidade não é formada só por números mas também por conhecimento do negócio, precisa ser traduzida para os demais que dependem dela." Caso contrário, avalia, os resultados apresentados sairão direto do escritório do contador para a gaveta do empresário ou órgão governamental, que não darão a devida importância.
Com a implantação da Lei 11.638, o mercado enfrenta a carência de profissionais habilitados a atuarem com as mudanças propostas. Os contadores precisam ser treinados para enfrentar a nova realidade. As universidades terão que adaptar seus currículos de modo que os novos contadores, ao deixarem as faculdades, estejam aptos a trabalhar. "É uma tsunami que está vindo", compara o sócio da PricewaterhouseCoopers Carlos Biedermann.