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Desafios do mercado de trabalho

Se não tivermos uma política pública articulada e consistente voltada para a formação de mão de obra nos vários níveis, dificilmente o Brasil poderá ingressar na chamada economia 4.0

Um dos maiores desafios da economia brasileira na atualidade é o alto índice de desemprego, que atinge mais de 11 milhões de trabalhadores, com todos os problemas econômicos e sociais decorrentes. Frise-se que esse problema já existia antes da pandemia, revelando a incapacidade do País de gerar condições para absorver uma grande parcela da população no mercado de trabalho.

O desemprego de longa duração, mais de 2 anos à procura de trabalho, que em 2012 atingia pouco mais de um milhão de trabalhadores, passou para 3,6 milhões em 2021. Quanto mais tempo a pessoa fica sem trabalhar, mais se desatualiza, e tem maior dificuldade para recolocação, com a agravante de que a maior parte dos desempregados, segundo dados da FGV, têm baixo nível de escolaridade. De outro lado, a modernização das empresas e a evolução tecnológica criam exigências de maior qualificação da mão de obra. Nesse contingente, se encontra um número de estudantes que, por razões várias, abandonaram a escola durante a pandemia e, muitos deles, são os conhecidos como “nem nem”, isto é, que não estudam e nem trabalham, e que representam um peso para suas famílias e para a sociedade.

O último dado do Caged, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Previdência, refere-se a março, revelando que com o crescimento do emprego no primeiro trimestre, superamos ligeiramente o nível registrado em 2020, antes da pandemia, o que é uma boa notícia, mas não revela o quadro real da situação do mercado de trabalho no país.

Artigo da revista Conjuntura Econômica mostra que parcela significativa (8,9%) do crescimento do emprego se deu na informalidade, enquanto o aumento com registro foi de apenas 2,3% do total. Além disso, grande parte (cerca de 6,6 mil de trabalhadores) se refere a empregos precários, como trabalho intermitente, tempo parcial, ou sazonal, e o nível das remunerações, assim como dos reajustes dos trabalhadores em geral, não acompanhou os índices de inflação, medidos pelo IPCA.

Os mais de 4 milhões de MEIs, Microempreendedores Individuais, muitos dos quais perderam, ou deixaram, seus empregos para trabalhar por conta própria, como profissionais com alguma especialização, ou pessoas que viram na crise uma oportunidade para desenvolver alguma atividade remunerada, têm aliviado um pouco a pressão sobre o emprego.

O mercado de trabalho brasileiro apresenta um quadro em que convivem o elevado desemprego, com a falta de mão de obra para alguns segmentos, e que no caso de atividades ligadas à TI, se torna muito preocupante, especialmente para as empresas menores. Como têm mais dificuldades para recrutar no mercado, elas treinam e formam pessoas para suas necessidades, mas acabam perdendo para as maiores, que podem pagar maiores salários e benefícios. Segundo fontes do setor, até empresas do exterior têm recrutado técnicos no Brasil, seja para trabalhar on-line, ou nos seus países.

Se não tivermos urgentemente uma política pública articulada e consistente voltada para a formação de mão de obra nos vários níveis, dificilmente o Brasil poderá ingressar na chamada “economia 4.0”, que exige não apenas a tecnologia, como, também, o profissional capaz de utilizá-la de forma eficiente. A formação de mão de obra qualificada passa pela melhora da educação desde o nível elementar. Sem uma boa formação em matemática, português e inglês, dificilmente o estudante poderá ser um bom profissional nas áreas de maior conteúdo tecnológico.

Sem pressão e participação da sociedade, contudo, essa política não será implementada pois seus resultados não são imediatos e não atraem a classe política. Devemos nos articular para cobrar dos candidatos aos vários cargos em disputa nas próximas eleições, compromissos com a educação de qualidade, para que o Brasil possa recuperar sua posição de protagonismo no cenário das nações.