Notícias
Baixo investimento pode travar crescimento do País
Governo teme até que oferta menor, causada pela queda na produção, resulte em mais inflação
A crise internacional e as perspectivas cada vez mais incertas para a economia brasileira travaram os investimentos no País. Indicadores conhecidos como antecedentes (conjunto que, somado, dá origem aos dados consolidados) e informações de bastidores de mercado indicam que tanto o setor público quanto o privado pisaram no freio. Essa situação cria um ciclo vicioso, no qual o baixo investimento diminui o crescimento e o baixo crescimento reduz o investimento.
Para se ter uma ideia, esse foi um dos temas debatidos na sexta-feira numa reunião do diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, com analistas de mercado em São Paulo. "Existe o temor de que o investimento baixo de hoje signifique oferta menor lá na frente. E oferta menor pode resultar em inflação mais alta", afirmou um dos participantes do encontro.
A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, pegou alguns dados, fez as contas e chegou a conclusões preocupantes. Ela notou que, apesar do crescimento anêmico da indústria no primeiro trimestre, o nível de utilização da capacidade instalada (conhecido pela sigla Nuci) subiu. Entre janeiro e março, a produção industrial caiu 0,5% e o Nuci avançou 0,6%. "Se a indústria está fraca, o uso da capacidade instalada deveria cair também."
Outro indício diz respeito ao consumo aparente de bens de capital - calculado com base na soma de produção local e importações, subtraída das exportações. No primeiro trimestre, houve queda de 4,5% ante período anterior. "Com base nesses números, nossa projeção é de que a taxa de investimentos tenha caído 3,1% no primeiro trimestre (em relação ao anterior)."
Os dados oficiais sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) entre janeiro e março de 2012 só serão divulgados em 1.º de junho. Além do crescimento em si, há grande expectativa sobre os investimentos. No fim de março, a presidente Dilma Rousseff afirmou que a taxa de investimentos no Brasil deveria caminhar para 24% ou 25% do PIB. Em 2011, ficou em 19,5%.
O número da presidente não surgiu por acaso. Economistas avaliam que, para o País crescer de forma sustentável de 4% a 5% ao ano (meta de Dilma), precisaria levar a taxa de investimento ao nível citado pela presidente.
Conversas de bastidores também são desanimadoras. O Estado apurou que empresas dos setores siderúrgico, de papel e celulose e de bens de capital, entre outras, paralisaram recentemente planos de expansão e não cogitam retomá-los tão cedo.
Crise. São várias as razões para o pé atrás dos empresários. Algumas estruturais e largamente conhecidas, como a baixa produtividade dos gastos governamentais, a alta carga tributária e a infraestrutura precária. São fatores citados por Marcelo Moura, professor de economia do Insper, e por Paulo Bilyk, sócio da Rio Bravo Investimentos.
"O Brasil arrecada como país rico, mas tem serviços de país pobre", sintetiza Moura. "Por causa desses problemas estruturais, as empresas brasileiras não estão conseguindo entregar os lucros que prometeram alguns anos atrás", completa Bilyk. Para ele, o lado bom é que o "investidor estrangeiro finalmente será realista em relação ao Brasil".
Mas há, também, fatores conjunturais. Além da crise internacional, que por si só já coloca enorme ponto de interrogação sobre o cenário econômico, há temores das mudanças recentes do governo Dilma nas políticas cambial e monetária. Para piorar, o setor público está investindo menos do que se esperava.
"Conversamos com empresários de vários segmentos, que dizem que os investimentos do governo estão em ritmo lento, com exceção do programa Minha Casa, Minha Vida", comenta o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Até a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que cansou de se queixar do real valorizado e do juro alto, está pessimista. "As perspectivas para os investimentos são muito ruins", diz o diretor de Competitividade da entidade, José Ricardo Roriz Coelho.