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Bancos temem calote e derrubam o crédito
Turbulência externa e risco de atrasos levam instituições a prever menor oferta de empréstimos no fim de ano
À sombra da crise internacional, instituições financeiras pisam forte no freio e preveem reduzir a oferta de crédito de forma brusca no fim de ano. Receosos com o risco de calote, bancos apontam para retração dos indicadores no quarto trimestre, em comparação com o período anterior. Em contrapartida, visando retomar a trajetória de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o Banco Central sinaliza que continuará reduzindo a taxa básica de juros por entender que "ajustes moderados no nível da taxa são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012", segundo Boletim Regional do BC, referente ao 3º trimestre, divulgado ontem em Belo Horizonte.
Levantamento feito entre 19 e 30 de setembro pelo BC com 46 conglomerados e instituições financeiras, responsáveis por mais de 90% das operações, mostra que o indicador de oferta de crédito pode se aproximar de níveis considerados "restritivos". É o caso da disponibilidade de recursos para micro, pequenas e médias empresas, cujo índice pode recuar de -0,38 para -0,70. O indicador classifica a oferta e a demanda por crédito de acordo com o planejamento das instituições financeiras para o próximo trimestre, variando entre os níveis 2 (consideravelmente flexível) e -2 (consideravelmente restritiva)."A justifica dos bancos para esse quadro é a maior preocupação com o nível de inadimplência do segmento", afirma o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo. As grandes empresas também serão afetadas. A previsão é de que o índice caia -0,45 para -0,77 em relação ao período anterior.
Torneiras fechadas
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, avalia que "as torneiras estão sendo fechadas". "O consumidor tem ouvido as notícias da Europa. Anteontem foi a Grécia, ontem a Itália, hoje é a Espanha e amanhã deve ser Portugal. Existe um boato lá e as pessoas aqui deixam de comprar. No caso dos bancos, a sensibilidade também é grande", afirma.
Segundo ele, as pessoas jurídicas percebem claramente as restrições diante do aumento das exigências dos bancos para aprovação de pedidos de empréstimo. "É até questionado se o recurso é para capital de giro; se vai ser usado para reformar ou para estocar", afirma.
No caso das pessoas físicas, apesar das restrições de oferta, com 13º no bolso, a expectativa é de aumento da demanda, passando de um patamar restritivo (-0,29) para flexível (0,35), refletindo principalmente a necessidade de recursos para as compras de fim de ano e o baixo nível de desemprego, que, em setembro, ficou em 6%.
Mesmo com a previsão de considerável queda na oferta, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, considera que o mercado ainda apresenta ritmo "muito positivo", com estimativa de crescimento de 17% em relação ao ano passado. Com isso, a tendência é que no ano que vem o volume de crédito alcance 50% do Produto Interno Bruto — duas vezes mais que em 2004, quando era de apenas 25%.