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Emergentes levam vantagem na recuperação do mercado de ações

Desde o começo do ano os mercados emergentes vêm tendo desempenho radicalmente superior ao dos países desenvolvidos.

Fonte: Valor EconômicoTags: ações

David Oakley

Desde o começo do ano os mercados emergentes vêm tendo desempenho radicalmente superior ao dos países desenvolvidos. O sinal mais claro disso pode ser visto nos mercados de ações, com o índice Micex da Rússia acumulando valorização de 48%, o índice Composto da Bolsa de Xangai, na China, em alta de 39%, o índice Bovespa ganhando 21% e o BSE Sensex 30 da Índia, 14%.

Enquanto isso, o índice Standard & Poor"s 500 acumula perda de 5% no ano, do FTSE 100, de Londres, perde 11% , o indicador de blue chips europeias recua 5% e o japonês Nikkei 225 cai 1%.

Os mercados emergentes tendem a subir mais rapidamente nas épocas de vacas gordas e a caírem mais rapidamente em períodos de vacas magras. Apenas por essa razão não é uma surpresa completa os mercados estarem registrando ganhos tão grandes desde os pontos mais baixos registrados pelos principais índices de ações em 3 de março.

A confiança e o apetite pelo risco começaram a retornar, em meio a sinais de que a economia mundial está se estabilizando. O índice FTSE Emerging, um bom barômetro das ações de mercados emergentes, valorizou-se 27% desde 3 de março, comparado a uma alta de 21% do S&P 500 e de 13% do FTSE 100.

Essa melhoria no sentimento foi reforçado por decisões do Banco da Inglaterra e pelo Federal Reserve (Fed) de comprarem bônus de seus próprios governos, enquanto a reunião do G-20 em Londres reforçou a confiança no mundo em desenvolvimento, depois de concordar em injetar mais dinheiro no Fundo Monetário Internacional (FMI), que poderá ser usado para socorrer economias emergentes com problemas.

Nick Chamie, diretor de análise de mercados emergentes da RBC Capital Markets, diz: "O aumento do apetite pelo risco sempre incentiva mais os mercados emergentes que os desenvolvidos. O mundo em desenvolvimento também oferece cada vez menos risco sistêmico para a comunidade internacional, uma vez que seus bancos não estão expostos a ativos tóxicos. O G-20 também contribuiu para melhorar o sentimento ao definir as necessidades de recursos do FMI, que deverá ajudar a proteger as economias emergentes se as coisas se deteriorarem".

Até mesmo os mercados da Europa central e do leste, que vêm registrando alguns dos piores desempenhos por causa dos altos níveis de endividamento externo e pela situação ruim das finanças públicas, registraram bons desempenhos nas últimas seis semanas. O índice FTSE All World East Europe acumula uma valorização de 48,6% desde que atingiu seu ponto mais baixo, em 18 de fevereiro.

E não são apenas as ações que estão se beneficiando. No índice de bônus soberanos Embi+, que congrega os principais mercados emergentes, os spreads sobre os bônus do Tesouro americano caíram de 714 pontos-base, no pico atingido em 18 de fevereiro, para 565 pontos-base.

No mercado de câmbio, o real brasileiro e o peso mexicano subiram em relação o dólar desde o começo do ano, enquanto o won da Coréia do Sul, que caiu bastante em relação o dólar em janeiro e fevereiro, registra grandes ganhos desde então. As moedas da Europa central e do leste tiveram uma grande recuperação contra o euro desde o começo de março.

O desempenho superior dos mercados emergentes vem sendo ajudado pela China, a economia que mais cresce no mundo.

Na verdade, analistas afirmam que o bom desempenho pode ser traçado a 10 de novembro, quando a China anunciou um grande pacote de estímulo fiscal para reforçar seu crescimento. Há sinais de que esse estímulo enorme, de 4 trilhões de yuan (US$ 585,3 bilhões), já esteja se refletindo na economia. Hoje, o governo deverá anunciar que o PIB chinês cresceu de 6% a 7% no primeiro trimestre.

Michael Hartnett, diretor-adjunto da estratégia de investimentos internacionais do Bank of America Merrill Lynch, diz: "A China é a principal razão do desempenho superior dos mercados emergentes. Temos visto sinais de melhoria em uma série de indicadores de crédito, pesquisas entre gerentes de compras e vendas de automóveis".

Ele também acredita que o ponto de virada para os mercados emergentes aconteceu em março, quando os mercados começaram a perder o que ele chama de "pessimismo psicótico".

"Em 1º de março, havia um pessimismo psicótico, quase apocalíptico. Isso acabou. E coincidiu com os anúncios pelo Banco da Inglaterra e pelo Fed, de que eles iriam comprar seus próprios bônus, e com a estabilização de alguns indicadores econômicos importantes. Quando o clima melhorou, houve muita cobertura de vendas a descoberto [os investidores compraram ações que eles haviam vendido com dinheiro emprestado], e muitos investidores que passaram a ver as compras de ativos de mercados emergentes, especialmente através dos fundos negociados em bolsas de valores, como uma maneira de diversificar e tirar vantagem da melhoria do sentimento."

Entretanto, analistas alertam que o sentimento poderá mudar facilmente se a aversão ao risco retornar. Em outras palavras, um choque financeiro ou um punhado de dados ruins poderiam derrubar os ativos dos mercados emergentes mais e mais rapidamente que as ações dos mercados desenvolvidos.

Muitos mercados emergentes também ainda continuam muito dependentes dos desempenhos dos EUA e da Europa ocidental, por causa da dependência de suas exportações.

Shahin Vallee, estrategista do BNP Paribas para mercados emergentes, diz: "As ações dos mercados emergentes ainda estão em sua maioria bem baratas, o que sugere que há mais espaço para alta".

O atual múltiplo preço/lucro (P/L) do índice Composto da Bolsa de Xangai é, por exemplo, de 18,4. Isso se compara à alta recorde de 48,9 registrada em agosto, e o ponto mais baixo de 12,9, em dezembro. O índice Bovespa e o RTS da Rússia também estão sendo negociados fora do ponto mais baixo do P/L, de 5,21 e 4,6 respectivamente.

"Nossa opinião é de que os ativos dos mercados emergentes parecem comprados em excesso. Eles devem passar por uma correção, que nós acreditamos que seria saudável", alerta Hartnett. "Quando ao descasamento [a visão de que os mercados emergentes podem atuar independentes dos mercados desenvolvidos], eu acho que isso é errado. Tudo ainda depende do consumidor americano. Quaisquer sinais de melhoria nesse front poderá acarretar mais altas para os mercados emergentes".