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Rendimento dos pobres aumenta 7%
Fonte: Correio Braziliense
Mariana Flores
Entre 2001 e 2007, 13,8 milhões de pessoas melhoraram de vida e quase 80% passaram a ter renda média. A despeito desse avanço, o Brasil ainda concentra desigualdades gritantes
Com um aumento de renda próximo ao crescimento chinês, os trabalhadores brasileiros mais pobres conseguiram ascender de faixa salarial ao longo desta década. Um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que 13,8 milhões de brasileiros subiram de faixa salarial entre 2001 e 2007.
A renda dos 10% mais pobres do país cresceu em 7%. Com a melhora, diminuiu a desigualdade de renda. O Índice de Gini, indicador que mede o nível de concentração de rendimentos, variou de 0,593 para 0,552 — quanto mais próximo o coeficiente for de zero, menores são as disparidades.
Apesar da queda de 7% no nível de concentração no período, o Brasil ainda está entre as nações mais desiguais. De acordo com o estudo do Ipea, 113 economias apresentam distribuições menos concentradas. “Apesar de ainda registrar uma grande desigualdade, o país está diminuindo as diferenças em função, principalmente, do crescimento econômico. A base da pirâmide era muito empobrecida, por isso qualquer expansão faz a renda dela crescer muito rápido e acima da média”, afirma o pesquisador do Ipea, Ricardo Amorim.
Dos 13,8 milhões de brasileiros que mudaram de faixa de rendimento, ou seja, tiveram aumento da renda superior à soma do crescimento econômico do país e da inflação do período, 74% passaram da faixa que reúne os mais pobres para a intermediária. O estudo dividiu a população em três classes de rendimento. Os de classe mais baixa têm ganho familiar mensal de até R$ 545,66 por mês, os da faixa intermediária de R$ 545,66 a R$ 1.350,82, e os do grupo de salários mais elevados acima de R$ 1.350,82. De acordo com o levantamento, outras 3,6 milhões de pessoas saíram da classe de renda intermediária para a mais alta.
Consumo
Boa parte do dinheiro a mais foi canalizada para o consumo, segundo Amorim. “Qualquer aumento de renda é convertido em consumo, e o financiamento facilitado adianta esse processo. Foi no ano passado que a diarista brasiliense Andréia Cristina Nogueira, de 34 anos, ascendeu da última faixa de renda para a intermediária. Com os últimos aumentos do salário mínimo ela pôde aumentar o valor cobrado pela prestação de serviço. A soma do que recebe em todas as casas em que trabalha, de segunda a sábado, chega agora a R$ 600. Com isso, pôde investir em sua casa. Microondas, máquina de lavar roupa, geladeira e fogão dividem o espaço em que vive com os dois filhos em um barracão de dois cômodos na Vila Estrutural. Ao salário, Andréia ainda soma o valor recebido pelo Bolsa Família. “O salário melhorou um pouco e deu para equipar a casa, já que a única despesa que tenho é a conta de água de R$ 10 por mês”, conta.
A pesquisa mostra que os programas de transferência de renda tiveram papel importante na escalada dos brasileiros. Segundo os dados, 2,7 milhões dos que passaram da classe mais baixa para a intermediária recebem algum benefício governamental. O estudo mostra que a maioria dos que ascenderam de classe estudou até a quarta série do fundamental e moram em cidades pequenas. Mais da metade dos que passaram a ter renda mensal superior a R$ 545,66 moram em municípios pequenos, 20% em cidades de porte médio e 25% em regiões metropolitanas. Quando se trata da ascensão da classe intermediária para a mais elevada, os trabalhadores das pequenas cidades continuam sendo os mais beneficiados — representam 43%, contra 34% dos de regiões metropolitanas e 24% de cidades médias.